Sou louca por peixes. De água salgada ou de água doce, crus, cozidos, fritos, assados, eu gosto de tudo quanto que é jeito. Gosto tanto que nunca me importei em ter que tirar uma espinha aqui outra ali.
Cresci no ABC paulista, com um pai que adora pescar. O Riacho Grande era um lugar que frequentávamos. Tilápia era o peixe que mais pescávamos e consequentemente o peixe que mais comíamos. Sabor leve, carne macia e poucas espinhas, ela fazia sucesso na nossa mesa.
Claro que estou falando da tilápia de verdade, aquela que não vem de pesqueiros, que não é alimentada com ração e é de água limpa. Ué, quem não gosta de peixe de água limpa? Parece redundante, mas não quando falamos de tilápia.
A tilápia é um peixe altamente resistente e versátil, tem uma enorme capacidade de se adaptar a ambientes de água parada. Suporta grandes variações de temperatura, tolera baixos teores de oxigênio e se reproduz rapidamente. Enquanto um peixe tradicional demora 15 meses para atingir o tamanho e peso ideal para consumo, a tilápia leva 7 meses.
Tanta resistência fez com a tilápia fosse um dos peixes mais consumidos no Brasil. Mas o sucesso não veio a calhar e ela começou a ser comercializada sem nenhum critério, sem cuidados e sem avaliação de qualidade. Quem nunca escutou dizer que fulano não gosta de tilápia porque tem gosto de barro, ou quem nunca passou em frente àquele rio fedido e surpreendentemente viu alguém pescando. E pescando o quê ? Tilápia, é claro!
Por esses e outros motivos, a tilápia ficou mal falada. E era nesse ponto que eu queria chegar. Por ser um peixe tão lucrativo, a má fama começou a atrapalhar a sua comercialização. E inúmeros esforços foram implantados para melhorar a qualidade do produto final.
Mas a fama, ou a má fama, nesse caso não é algo que se resolva assim, facilmente, principalmente tratando-se de um produto alimentício. Pior ainda de um peixe. Mesmo com todos os esforços implantados na produção e comercialização adequada, os produtores não conseguiam mudar como a tilápia era vista pelo consumidor: peixe barato, fácil de ser encontrado, de baixa qualidade, comumente consumido pelas classes sociais mais pobres.
Foi quando tilápia foi apresentada ao marketing, e tudo se resolveu.
Quem estuda ou estudou marketing já ouviu falar sobre naming. É uma prática ou estratégia utilizada pelos profissionais de marketing para desenvolver nomes de marcas, corporações, produtos e serviços. É extremamente importante para desenvolver marcas e nomes comerciais eficientes, que expressem uma promessa e/ou proporcione um meio fácil para os consumidores identificar e interagir com eles.
Pois então, do mesmo barro que Deus criou a tilápia, os marqueteiros criaram o Saint Peter.
É isso mesmo que você leu: mudaram o nome. Com isso mudaram o posicionamento do produto, mudaram o tipo de consumidor, a opinião, a aceitação do produto e, claro, o preço.
O que um nome americanizado no Brasil não faz por um produto? Afinal, um peixe chamado São Pedro não faria tanto sucesso, não é mesmo? (Nos Estados Unidos, o Saint Peter é conhecido e comercializado como tilápia.)
E por que São Pedro? Será que é uma homenagem ao mais famoso dos apóstolos pescadores de Jesus?
Kotler, considerado um guru dos negócios, e autor dos livros de teorias de marketing mais utilizados no mundo, ficaria orgulhoso de nós brasileiros.
Pera aí, quer dizer então que Tilápia e Saint Peter são exatamente o mesmo peixe?
Muitos, muitos, e quando eu digo muitos, eu quero dizer que a maioria dos entendedores de peixe com quem eu conversei diz que sim. Porém, para ser justa, em uma rápida pesquisa pela internet eu li que algumas pessoas dizem que o Saint Peter é na verdade um tipo de tilápia, digamos que uma tilápia albina, que nada difere da tilápia que conhecemos, além da sua pele mais clara. O sabor e qualidade da carne são os mesmos. Isso quer dizer que sem pele é tudo a mesma coisa.
Quantos Saint Peters com pele você já comprou ou comeu por aí?
(Se não fosse o google imagens, eu nunca teria visto.)
Tilápia, tilápia albina ou Saint Peter, como a sua cabeça ou classe social preferir, é um peixe delicioso. Que pode ser consumido tanto cru, como vemos em muitos restaurantes japoneses, quanto assado, frito, etc.
Estão surpresos? Não fiquem, é muito fácil de entender. Eu explico:
É muito mais legal postar no facebook:
“No Anália Franco, no meu terraço gourmet, assando um Saint Peter no papillote.”
Do que dizer:
“Na Vila Formosa, zona leste, na churrasqueira da varanda, assando uma tilápia no papel alumínio.”
😉
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1 comentário
Tilápia ou Saint Peter não me importa é uma delicia….