A sopa é uma das refeições mais antigas do mundo. Existem evidências da existência delas desde 20.000 AC, logo após a criação dos vasos de argila a prova da água.

Aliás, vocês sabiam que a palavra restaurante foi usada pela primeira vez na França, no século 16, e se referia uma sopa barata, bem concentrada e forte que era vendida nas ruas como remédio para curar o cansaço e dar energia depois de um longo dia de trabalho? Era um alimento restaurador – ou restaurante.

Voltando a falar da sopa de cebolas francesa, reza a lenda que ela foi inventada pelo rei Luís XV, um dia em que ele estava faminto depois de passar horas caçando e as únicas coisas que ele tinha na dispensa da sua cabana de caça era manteiga, cebola e champagne.

Eu confesso que essa versão parece bem surreal pra mim. Se você levar em consideração que a sopa demora muito para ficar pronta, ela não é nada prática para quem está com muita fome no meio da noite. E, se o rei, que era o rei, só tinha isso à disposição na sua despensa, o que será que tinham os pobres camponeses? Enfim, a história não deixa de ser interessante de qualquer jeito.

As cebolas são populares na culinária desde época romana. Fáceis de ser cultivadas, crescem em grandes quantidades e, após colhidas, duram por muito mais tempo do que os outros vegetais. Por isso, durante muitos anos, elas foram associadas à alimentação dos pobres.

Dizem que a primeira preparação dessa sopa envolvia somente fritar as cebolas, cozinhá-las na água e servir com pão e alcaparras (o coitado do rei nem alcaparras tinha). Pouco apetitosa, né? Bom, no século 19 os cozinheiros deram uma gourmetizada e começaram a acrescentar sal, pimenta e queijo. Versão mais fiel da sopa que encontramos hoje.

 Aqui na França dizem que essa sopa é perfeita para curar a ressaca e as desilusões amorosas. Levando em consideração que ela realmente é forte, e dá aquela acariciada no estômago, imagino que deve ser boa mesmo para ressacas. E, que ela precisa de bastante atenção no preparo e demora um pouquinho o processo como um todo, seria de verdade um alivio para para distrair os sentimentos de corações partidos.

 Aqui, normalmente, ela é servida como entrada, o que faz muito sentido. Por ter um sabor muito marcante, seria um pouco complicado comê-la na quantidade de uma refeição inteira.

 Existem dois pontos extremamente importantes para preparar essa sopa. Se você acertar neles, é sabor garantido.

 Primeiro, as cebolas precisam ser muito bem caramelizadas, e, quando se trata de caramelizar cebolas, não existe atalho: o fogo tem que ser médio/baixo e a paciência tem que ser grande. Como a panela vai estar cheia e você não poderá ficar mexendo na cebola sempre, use seu ouvido. A caramelização nada mais é do que retirar a água da cebola e aflorar o açúcar que tem nela. Enquanto tiver água nas cebolas que estiverem embaixo, você vai escutar um barulhinho forte dessa água fervendo e fazendo bolhinhas. Quando o barulho for de algo fritando bem mais baixinho, já está na hora de dar uma mexidinha. Fique calmo, dificilmente a cebola vai queimar sem que você note.

 Segundo, o caldo que você vai usar tem que ser saboroso, muito saboroso. A receita original usa caldo de carne, mas você pode usar de frango ou, se for vegetariano, pode até usar caldo de legumes. O importante é que seja cheio de sabor e sem muito sal, pois ele reduz mais da metade durante o cozimento e, se for salgado, você vai acabar com uma salmoura e não com uma sopa. Aqui tem uma receita caseira de caldo de frango.

 Durante o cozimento, usaremos dois tipos de álcool. O primeiro é o vinho, que pode ser substituído por suco de maçã, se você preferir. O segundo é a dose de conhaque, que dá um quê a mais na sopa, mas não é essencial. Se a sua preocupação for as crianças, esqueça. Todo álcool já terá evaporado até o final do cozimento. O que estamos buscando aqui é o sabor que eles agregam, e não álcool em si.

 Se você for usar conhaque, use o que é feito de uva. Afinal, no Brasil se vende outros tipos de bebida com o nome de conhaque, como o de alcatrão, por exemplo.

 Quanto ao queijo, você pode usar qualquer queijo que derreta bem. O tradicional é o francês, por razões óbvias: gruyère de Comté. Mas você pode usar um gruyère qualquer ou uma mistura de mozarela e parmesão ralado. Fica a seu critério.

 

Sopa de cebolas francesa (2 porções inteiras ou 4 entradas). 

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Ingredientes.

1 kg de cebola

2 colheres de sopa de manteiga

1 colher de azeite de oliva

1 taça (120 ml) de vinho branco seco

1 colher de sopa de farinha

1 litro de caldo de carne

1 shot (50 ml) de conhaque (opcional)

Buquê garni (eu usei pedaço de uma folhinha de alho porró, duas folhas de louro, alecrim fresco, tomilho fresco e orégano fresco)

Queijo gruyère (Comté) fresco ralado

1 baguete (ou outro pão que dê para fazer torradinhas de cerca 1,5 cm)

1 alho

Sal e pimenta a gosto

Modo de fazer.

Pique as cebolas conforme a foto acima, em tiras finas.

Em uma panela, de preferência de fundo grosso, derreta a manteiga com o azeite, acrescente as cebolas picadas e uma pitada de sal. Se as cebolas encherem a panela, não se preocupe, elas diminuirão muito de tamanho. Comece o processo de caramelização da cebola, com o fogo médio e usando as dicas que eu dei. Tenha paciência, lembre-se de que esta é a parte mais importante do processo. Deve demorar cerca de 30 minutos.

Adicione o vinho branco e dissolva toda a crosta que ficou na panela com o processo de caramelizacão. Espere o vinho evaporar quase por completo, acrescente a colher de farinha e mexa por mais ou menos um minuto. Coloque o buquê garni e despeje o caldo de carne que deve estar quente. Cozinhe por 20 minutos em baixa ebulição destampado, apenas com algumas poucas bolhinhas de fervura.

Enquanto isso, pincele o pão com azeite e tempere com sal e pimenta. Leve ao forno bem alto para fazer as torradas. Deve demorar apenas alguns minutos de cada lado, fique atento para não queimar. Retire do forno. Corte o alho no meio e raspe nos dois lados das torradas. Reserve.

Faltando 2 minutos para terminar de cozinhar a sopa, acrescente o conhaque. Tempere com sal e pimenta. Não tempere antes, porque o líquido evapora muito e você pode  acabar com uma sopa mais salgada do que esperava.

Coloque a sopa em potinhos individuais que possam ir ao forno. Coloque as torradas boiando em cima e cubra com queijo. Seja generoso! Quanto mais queijo você conseguir colocar, melhor.

Leve ao forno em temperatura bem alta e cozinhe até o queijo ficar bem douradinho.

Espere esfriar um pouco. Coloque uma música francesa para tocar, feche os olhos, imagine a torre Eiffel e saboreie a sua sopa.

Para te inspirar, segue uma foto que meu marido tirou aqui da janela de casa.

 

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Panela da Ceci (=



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