Pior do que discutir sobre política é discutir sobre pimenta. Os que amam e os que odeiam nunca conseguem chegar a um acordo.

Aqueles que odeiam pimenta não conseguem entender como é possível suportar tamanha picância. A língua pega fogo, adormece, arde, os olhos lacrimejam, o suor frio desliza pela testa e o nariz começa a escorrer. Dizem que impossível sentir qualquer sabor. Afinal, se pimenta fosse bom, não existiria spray de pimenta.

Aqueles que amam dificilmente comem qualquer coisa sem uma pimentinha. Mordem um jalapeño como quem come maçã, sem fazer cara feia. Analisam o sabor das pimentas e acham que todos que não gostam são frescurentos. A pimenta contém uma substância ativa chamada capsaicina. Esse composto químico se liga diretamente a um receptor de sabor na boca chamado de VR1, que é o mesmo receptor que é estimulado quando comemos algo quente.

Tem gente que pensa que quanto mais você come, menos ardido fica. Isso não tem nada a ver, pois não importa quanto você coma pimenta, ela vai continuar sendo apimentada. Você pode se acostumar e tolerar mais, porém o picante continuará picando.

Outros acreditam que existe um fator genético ou até mesmo cultural que faça com que algumas pessoas tenham algum gene diferenciado que suporte mais a ardência.

São muitas as especulações a esse respeito. Porém, foi feita uma pesquisa entre mexicanos e americanos e descobriram que a tolerância que eles suportam é quase a mesma, independentemente dos mexicanos, devido a sua cultura gastronômica, estarem mais expostos a pimenta do que os americanos.

A conclusão que a pesquisa chega é que gostar ou não gostar de pimenta é algo psicológico. Algumas pessoas desfrutam mais da sensação picante do que outras. A ardência pode causar prazer a uns, da mesma maneira que pular de para-quedas pode ser prazeroso para algumas pessoas e inaceitável para outras. O que explica o fato de mesmo as pessoas que amam pimenta lacrimejarem, soluçarem e ficarem vermelhas quando corajosamente enfrentam pimentas muito, muito picantes.

 

(http://www.smh.com.au/lifestyle/diet-and-fitness/paul-rozin-reveals-the-link-between-pleasure-and-pain-and-why-some-like-it-hot-20150119-12t9oy.html)

Mas como conseguimos classificar a picânciade uma pimenta, se é tão subjetivo assim? Até 1912, não tinha outra saída, os especialistas em pimenta tinham que sair experimentando as pimentas para poder classificá-las. E você aí reclamando do seu trabalho! Esses profissionais passavam o dia entre pimentas e sorvetes. Era a única maneira de suportar a sua tarefa árdua diária: experimentar as pimentas mais fortes do mundo.  

Foi quando um químico americano chamado Wilbur Scoville teve uma muito simples e brilhante ideia: diluir a pimenta em uma solução de água com açúcar. Quanto mais solução a pimenta necessitava para anular a sua picância, mais picante ela seria. Aposto que ele deve ter virado santo no sindicato dos provadores de pimenta. O número de soluções ficou conhecida como SHUs (Scoville Heat Units, ou Unidades de Calor de Scoville). É utilizado até hoje para classificar as pimentas e outros temperos.

Um pimentão, por exemplo, que não é picante, tem 0 SHUs. Já a pimenta tabasco, que as empresas usam para fazer aquele molhinho bem conhecido, tem de 2.500 a 5.000 SHUs. A pimenta dedo de moça tem de 5.000 a 15.000 SHUs. Já a pimenta malagueta tem entre 50.000 e 100.000 SHUs.

Parece muito? Ficou impressionado? Dê uma olhada nessas então:

Habanero Savina vermelho: Cultivada na Califórnia, tem 580.000 SHUs e foi apontada como a pimenta mais picante do mundo no livro do Guinness por muitos anos.

(http://practiquissimo.blogspot.com.br/2012/10/los-chiles-mas-picantes-del-mundo.html)

 

Naga Jolokia: De origem indiana e também conhecida como pimenta fantasma, ultrapassou a Savina Vermelha em 2007 e entrou para o livro do Guiness. Foi a primeira a entrar na casa de um milhão deSHUs.

 

(http://seedcostore.weebly.com/bhut-jolokia-seed-wholesale-direct-seedco.html)
Naga Viper: Obtida através de um cruzamento, feito em um laboratório britânico, entre o Naja Jolokia e o Híbrido Trinidad, ela superou o Naga Jolokia e entrou para o Guiness em 2010 com 1.359.000 SHUs.
(http://www.fourtwenty.ch/naga-viper_p-7348.html)

 

Trinidad Scorpion Butch: É uma variação de uma pimenta de Trindad e Tobago, entrou para o Guiness em 2011 com aproximadamente 1.400.000 SHUs. O nome Scorpion vem do seu formato. Dizem que pica mais que o próprio escorpião.

 

(http://www.australiangeographic.com.au/topics/ science-environment/2011/09/the-worlds-10-hottest-chillies/)

 

Carolina Reaper: Criada através de cruzamentos em um laboratório na Carolina do Sul, nos Estados Unidos, entrou para o Guinness 2012 e não saiu mais de lá, alcançando cerca de 2.200.000 de SHUs.

(http://matadornetwork.com/life/22-worlds-hottest-peppers-eat-them/)

 

Incrível! Essas pimentas são muito fora da minha realidade. Por mais que eu me considere uma pessoa corajosa, eu não provaria nem sob tortura.  Mas sempre tem uns loucos por aí. Os meninos do vídeo abaixo não só tiveram a coragem de comer uma Carolina Reaper, mas fizeram uma aposta de ficar 10 minutos sem tomar nada para amenizar os efeitos da pimenta. Para nossa alegria e entretenimento, eles gravaram. Tem louco pra tudo gente.

 

 

Falando em tortura, apenas por curiosidade, um spray de pimenta padrão contém entre 2 milhões e 5 milhoes de SHUs. É uma arma e tanto para ter guardada na bolsa, né?  Vale lembrar que, sempre que você for mexer com pimentas, deve usar luvas e lavar bem todos os utensílios, para evitar que outra pessoa sem saber entre em contato com a pimenta e leve depois a mão aos olhos. A mão suja de pimenta nos olhos é algo desesperador.

 

E, quando comerem algo bem apimentado, não bebam água. A explicação é um pouco científica demais para o meu gosto, mas eu vou tentar explicar. A capsaicina tem moléculas não polares, que só podem dissolver com outras moléculas não polares. A água é feita de moléculas polares, o que significa que não dissolvem a capsaicina. Se estiver gelada, é ainda pior, pois ela espalha as moléculas de capsaicina por toda a sua boa, fazendo aumentar a queimação. Não só a água, mas qualquer produto a base de água, terá o mesmo efeito (suco, refrigerante e a cerveja que tem baixo teor alcoólico, por exemplo) O que fazer então? Estes exemplos servem tanto para tomar quanto para passar na pele, pois algumas pimentas são tão fortes que também podem “queimar” a pele.
  • Laticínios: Leite, queijo, yogurte, etc. O óleo e a gordura desses produtos vão dissolver a capsaicina. Funciona exatamente igual ao sabão quando quebra as moléculas de gordura. Opte por produtos integrais, pois são mais gordurosos. 
  • Álcool: A capsaicina também se dissolve no álcool, mas somente se a bebida tiver um teor alcóolico bem elevado. Vodka é uma ótima solução. Caipiroska então, com bastante açúcar, muito melhor.
  • Óleo: Azeite é a melhor opção, mas você pode também usar pasta de amendoim. Os dois são ricos em gordura e diminuem bem a sensação de queimação.
  • Amidos: Arroz e pão não dissolverão a capsaicina como as gorduras, os óleos e o álcool. Mas eles vão agir como um esfregão para absorver as moléculas e parar a ardência. Sabendo disso, é uma boa fazer um arroz para acompanhar molhos bem apimentados. O que me faz lembrar a comida Tailandesa, que é superapimentada, mas sempre vem com um arrozinho branco de acompanhamento.
  • Açúcares: Doce sempre ajuda a disfarçar coisas ruins. Uma boa colherada de açúcar, um pouco de açúcar misturado em água ou até mesmo uma colherada de mel podem envolver sua língua e diminuir a queimação. 
(http://www.receitasdiaadia.com.br/t/caipirinha/)

Não disse que uma caipirosca bem docinha é a melhor saída? É isso, pessoal. Vale lembrar que eu estou bem mais para curiosa do que para especialista, e todas essas informações eu fui descobrindo aos poucos. O Blog está meio parado pois eu estou aguardando um upgrade que faremos nele em breve. Eu preciso que ele fique tão lindo quanto a minha vontade de postar receitinhas e curiosidades aqui para vocês. Muitas pessoas entram blog e poucas deixam comentários. Eu adoraria receber criticas, sugestões de temas, observações e até mesmo um “Oi” de vocês. Essa vida de blogueira é às vezes meio solitária. Interajam comigo e façam uma blogueira feliz. 🙂



Panela da Ceci (=



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2 Comentários

  • Olá Cíntia. Gostei muito do texto e do seu blog, e pra fazer você ficar feliz estou fazendo este comentário pra lhe incentivar e não deixar esmorecer. Já compartilhei também na minha página do “face”. É muito bom saber que existem outras pessoas que gostam tanto de pimenta tanto quanto a gente. Um forte abraço e continue firme e forte.
    Obrigado pela visita no meu insta @quitandadobaianinho

    Axé pra todos vocês.

    Messias Rocha
    (Pimentas Baianinho)

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