Foi durante as minhas visitas aos produtores de queijo da Serra da Canastra que eu fiquei sabendo do Guilherme. Quando eu perguntava quando as coisas tinham mudado, quando eles perceberam que os queijos de lá começaram a ser mais valorizados, todos, sem exceção, falavam do Guilherme.
Me contaram que o Guilherme, sem permissão e com muita ousadia, já que seu queijo não tinha ainda na época autorização pra sair de Minas Gerais, enviou o seu produto para participar de uma das competições de queijo mais famosas do mundo: o Mondial du Fromage de Tours, na França. Concorreu na categoria “massa prensada não cozida de leite cru de vaca” e ganhou medalha de prata. Tornou-se o primeiro queijo brasileiro premiado no exterior.
A partir de então, tudo mudou. Os chefs de todo o Brasil, que já provavelmente conheciam o queijo da Serra da Canastra, começaram a ver aquela região produtora com outros olhos. Foram matérias em jornais, reportagens, menus de restaurantes conceituados em São Paulo, pesquisadores, curiosos de todo o mundo queriam saber como era, onde e quem produzia esse queijo. Lógico que a fama toda não foi só para o queijo do Guilherme, e sim para todos os produtores da região.
Foi no nosso último dia na Serra da Canastra, que mesmo já com o carro cheio de queijos, eu consegui convencer meu marido a visitar mais um produtor, jurando que seria o último.
A referência que nos deram era um Fusca abandonado no meio da estrada, só que tinha dois Fuscas no caminho. Sem contar que o sítio do Guilherme fica depois do sítio de outro Guilherme. Quando chegamos na porteira, pedimos informação para uns rapazes que estavam pendurando algumas placas a respeito de um festival de balão que aconteceria no fim de semana seguinte.
Passamos pela porteira, pela casa e logo depois chegamos à queijaria. Quem estava lá produzindo era um casal de primos do Guilherme, a Neila e o Ednar. Muito simpáticos, iguais a todos os outros produtores que conhecemos. Eles nos explicaram sobre o queijo, sobre o concurso e que o Guilherme estava lá em cima cuidando do evento dos balões. Aí eu disse que tinha visto uns meninos pendurando umas placas e eles me disseram que lá estava o Guilherme. Estranhei, porque só tinha vistos meninos, aí que caiu a ficha.
Com tanta história e tanto que se falavam dele na cidade, eu jurava que ele era um senhor. Mas na época da competição ele tinha apenas 28 anos e hoje 31. O seu primo me disse que todos duvidavam dele na cidade, que diziam que ele iria acabar com o dinheiro do pai, que era um idealista, que ele não entendia as dificuldades… Mas ele foi lá destemido e, sabendo da qualidade do queijo, tinha certeza que tinha muito pouco ou quase nada a perder. Hoje todos colhem os frutos da ousadia dele.
O queijo do Guilherme/Neila/Ednar é delicioso, o sítio é lindo. Vale a visita, não só para provar o queijo, mas para escutar toda essa história com um sotaque mineiro gostoso e orgulhoso.
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