Mineiro, segundo o dicionário da Ceci: produto do terroir de Minas Gerais, produto resultante do estado de Minas Gerais que possui sotaque carinhoso e um sorriso aconchegante, mandatoriamente bom de conversa, produtores de cultura, de queijo de qualidade e de café docinho.

Ivair e sua esposa são produtos perfeitos do terroir de Minas Gerais.

Foi o primeiro produtor da Canastra a produzir queijo fungado e está lutando para conseguir o SIF desde então. Já foram feitas varias pesquisas, que atestaram que o fungo não é prejudicial a saúde, mas nenhuma ainda foi suficiente para convencer os manda-chuvas. No momento, um professor da UFMG está liderando uma pesquisa cujos resultados ficarão prontos agora em agosto de 2018. E com esse resultado (e como brilho nos olhos), ele disse que vai novamente buscar a legalização.

Diferente dos outros produtores que visitamos, eles produzem duas categorias de queijos. São os queijos de leites ordenhados na manhã e os queijos de leites ordenhados à tarde. Parece um pouco estranho, porque leite é leite. Mas eles descobriram que os leites de ordenhas diferentes têm qualidades diferentes.

Provamos os dois e, supreendentemente, também notamos a diferença. O queijo da tarde estava mais cremoso, mais amanteigado e mais úmido. Já o da manhã era mais consistente e firme. Não saberia dizer qual é o melhor, eles são apenas diferentes na textura e no sabor.

Entre uma prova de queijo e outra, fomos conversando e o Ivair foi nos presenteando com a sua história. Há alguns anos, a produção do seu queijo não ia muito bem, ele não se via fazendo outra coisa, mas não conseguia sustentar a família com o seu trabalho. Começou a apresentar quadros de depressão, e sua mulher teve que mudar para a cidade e abrir uma confecção para garantir o sustento da família.

Sozinho no sítio, o quadro só piorava, cada vez com menos entusiasmo e menos clientes. Chegou um momento em que a situação dele e da produção de queijo ficou insustentável e ele teve que parar de produzir e mudar para a cidade e acompanhar sua esposa na confecção. De nada ajudou. Quanto mais o tempo passava, pior ele se sentia.

Foi quando o Sebrae o convidou para participar do Empretec, um curso intensivo de impacto com foco em empreendedorismo. O curso durava uma semana, e ele sabia que seria desafiador. Além de ter que lidar com a depressão, durante essa semana ele seria tirado totalmente da sua zona de conforto e passaria o dia rodeado de engenheiros, médico, agrônomos que também estavam lá para fazer o curso. “Um roceiro no meio de um monte de homem estudado”, ele nos disse. Foi uma semana difícil, em que teve a ajuda das filhas para fazer as atividades que trazia para casa. Por vezes, pensou em desistir, pensou que aquilo ali não era o lugar pra ele. Mas não desistiu, seguiu firme e forte, tentando dar mais uma chance, talvez a última pra mudar a sua vida. Deu certo e ele se refere a essa curso como um divisor de águas.

Ele juntou o amor pelo queijo, todo o conhecimento de gerações de queijeiros que ele carregava com tudo o que aprendeu naquela semana. Largou a confecção e voltou pra fazenda. Sem dinheiro, mas com conhecimento, perspectivas, metas e objetivos. Começou tudo do zero, reconstruiu o local de produção, aperfeiçoou os métodos, focou nas características fortes do seu queijo.

Com o tempo, os negócios começaram a ir tão bem que quem teve que largar tudo foi sua esposa, que fechou a sua confecção pra ajudá-lo com a produção do queijo. Ela não poderia estar mais feliz. O sonho de viver do queijo, tradição da família dos dois, estava se concretizando.

Hoje eles exportam o queijo para outros estados e estão em busca firmes e fortes da certificação. Ivair saiu em várias revistas, matérias, virou modelo do Empretec e famoso na Serra da Canastra. Todos os certificados, matérias e jornais ficam expostos como troféus na parede.

De estado depressivo e falido, virou empreendedor bem sucedido e produtor de um dos melhores queijos do Brasil. Ufa!

Quando eu digo que o queijo tem alma, é disso que estou falando.

O queijo do Ivair carrega seu nome, sua trajetória e sua história. Que satisfação que eu sinto de dividir isso com vocês! Que orgulho comer desse queijo e provar um pouquinho dessa história!



Panela da Ceci (=



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