Você já ouviu falar no termo em inglês window shopping? Significa olhar vitrines, e é usado quando você passa o seu tempo apenas olhando as vitrines das lojas.

Eu, fascinada por comida como sou, faço na verdade o que eu chamo de table shopping. Adoro passar na frente dos restaurantes e ficar analisando o que as pessoas estão comendo. Gosto de ver como os chefs emprataram, a cara das pessoas enquanto comem, o que estão bebendo para acompanhar, etc. Pode parecer loucura, eu sei, mas é divertido e dá inúmeras ideias para brincar de ser chef em casa.

Quando chegamos aqui na França, no meio do verão, passávamos o dia inteiro caminhando por Paris. Saíamos na hora do café da manhã e voltávamos para o hotel depois do jantar. E foi aí que eu descobri o prato de hoje: o moules et frittes. Ele estava em todo lugar, toda esquina tinha alguém comendo. Pessoas sempre sentadas em uma mesa na calçada, viradas pra rua, tomando um bom vinho, na maioria das vezes rosé, e literalmente lambendo os dedos, enquanto comiam os mexilhões e as batatas fritas.

Tal combinação me parecia bem esquisita, confesso. Frutos do mar com batata frita? Como assim? Porém, com o tempo, vi que para eles isso faz todo o sentido do mundo, como hambúrguer com batata frita para os americanos ou queijo com goiabada pra gente. Feitos um para o outro.

Pesquisando um pouco na internet, descobri que existem contradições quanto à origem desse prato. Isso tem a ver com a briga da origem das french fries, como os americanos chamam a batata frita. Os belgas juram serem os criadores, enquanto os franceses tem tanta certeza que nem discutem sobre o assunto.

Esse prato normalmente é servido como uma entrada ou um aperitivo, dificilmente é um prato principal. Digamos que, comparando com o Brasil, seria a nossa comida de boteco. Divertida, come-se com a mão e normalmente é servida em porções grandes para ser compartilhada com os amigos.

Após provar, descobri como tudo faz sentindo. A batata frita balanceia perfeitamente o sabor suculento e forte dos mexilhões.

Procurando a receita para fazer em casa, descobri que a base do prato tradicional é sempre a mesma: um refogadinho de cebola, alho, alho porró ou aipo, ervas aromáticas e vinho branco. E agora vem a única contradição: em todas as receitas (repito: TODAS), os chefes mencionavam que o creme de leite não fazia parte dos ingredientes tradicionais, mas que eles preferiam colocar para dar mais cremosidade no caldo.

Bom, se todos eles preferem colocar o creme de leite, porque nós, meros cozinheiros de família, não vamos, né?

A batata frita é a tradicional mesmo. Porém, aqui em casa eu preferi fazer no forno, com bastante azeite, páprica e tomilho. Imagina como ficaria minha cozinha de 2 metros quadrados com uma frigideira quente com óleo fervendo ?

Quanto aos mexilhões, não se esqueça de limpá-los bem com uma escovinha, e retirar o que eles chamam de barba, uns pelinhos que ficam para fora da casca. Deixe-os em um pote com água gelada e sal por mais ou menos 40 minutos antes de prepará-los, para que eles abram e soltem a areia que estiver dentro. Depois de cozidos, descarte os mexilhões que não abrirem. Isso significa que eles não estavam frescos e não são bons para comer. Nada de forçar com uma faquinha para abri-los, hein?

Enfim, é extremamente fácil de fazer, demora minutos e fica DIVINO!

Aproveite! Como eu disse, é de lamber os dedos mesmo. No final, só vão sobrar as conchas para contar a história.